“Eu preciso pagar meu funcionário, eu preciso pagar o meu fornecedor para que ele pague o funcionário dele”, diz Bessa. “O governo vai ter que ajudar, os bancos vão ter que ajudar, os locatários vão ter que ajudar”, complementa.
As entidades sindicais empresariais não têm se posicionado com clareza, mas namoram a medida provisória do poder Executivo que libera praticamente o trabalho escravo e ignora o necessário isolamento social para diminuir a contaminação pelo coronavírus.
Falam em férias coletivas e individuais compulsórias para trabalhadores cumprirem a quarentena. A MP 927 chega a propor a suspensão de contratos de trabalho por meses, sem a obrigação de pagamento de salários. Essa é a única resposta concreta apresentada pelo governo federal neste momento de grave enfrentamento de uma pandemia.
“As centrais sindicais defendem a estabilidade no emprego com garantia dos salários integrais e ajuda aos desempregados, trabalhadores sem registro em carteira e cuidados especiais em favelas, moradores de rua e populações indígenas”, garante Ivânia Pereira, vice-presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Para a sindicalista sergipana, o enfrentamento ao coronavírus deve envolver toda a sociedade e “já que não temos presidente capaz de liderar a nação nesse necessário combate, precisamos nos unir e encontrar o caminho menos doloroso para todos”.
Uma proposta bastante viável, para Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB, é a criação de imposto sobre as grandes fortunas. “Uma minoria absoluta fica com cerca de metade da riqueza produzida no país, enquanto a imensa maioria mal consegue sobreviver com o que ganha”, acentua.
O assunto sobre taxação de grandes fortunas está tão na ordem do dia que o Senado abriu consulta pública sobre o Projeto de Lei Complementar 183/2019, sobre essa questão. Lembrando que no Brasil os mais ricos pagam menos impostos que os mais pobres.
“Atualmente mais de 38 milhões de trabalhadoras e trabalhadores estão na informalidade e 12 milhões estão sem emprego”, afirma Vânia. “O Estado brasileiro, portanto, precisa agir para que essas pessoas possam sobreviver ao coronavírus garantindo uma renda mínima para essa parcela da população”.
De acordo com Ivânia, “é necessário garantir os salários de quem trabalha com contrato e assegurar um rendimento para quem não tem garantia trabalhista nenhuma. Demitir ou cortar salários neste momento só contribuirá para o aumento do número de mortes”.