“Homem não fica grávido, mulher fica.” É assim que Adolfo Sachsida, novo ministro de Minas e Energia do governo Jair Bolsonaro, justifica a desigualdade salarial de gênero no Brasil. Em vídeo publicado em dezembro de 2015, Sachsida afirma que mulheres recebem salários menores porque engravidam, cuidam dos filhos, vão mais ao médico e preferem jornada de trabalho menor.
Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres ganham em média 20,5% menos que homens no Brasil, mesmo quando se comparam trabalhadores do mesmo perfil de escolaridade e idade, na mesma categoria de ocupação. Para o gestor bolsonarista, porém, nem sequer se trata “necessariamente” de discriminação.
O nome do vídeo é “Aprenda Economia com o Sachsida: Aula 07”. A descrição do vídeo exibe a seguinte mensagem: “Nessa aula estudaremos sobre discriminação e sobre políticas de ação afirmativa, tais como as quotas para mulheres e negros.” O conteúdo do vídeo foi revelado pelo site do jornal Folha de S.Paulo.
Durante a gravação, Sachsida dá um exemplo hipotético de um homem e uma mulher que produzem “igualzinho”, mas que a mulher faz “mais” em casa. Ele, então, questiona quem seria promovido em uma empresa e responde que seria o homem: “Você vai lá e fala assim: ‘Ai, está vendo? Na hora de promover, promoveu o homem, é discriminação’. Não, não necessariamente. Existem outras explicações condizentes com ideias de maximização de lucro do empresário que não são discriminação. É simplesmente um comportamento racional do empresário.”
“Se o casal tiver um filho, provavelmente é a mulher que vai cuidar do filho. Aí, você vira para mim e fala: ‘Mas, Adolfo, o homem fica bêbado mais que a mulher’. Fica, fica. Então, menos para o homem nesse ponto. Mas também quem vai mais ao médico? A mulher. Então, ela vai faltar mais para ir ao médico. O empresário está fazendo essas contas”, acrescenta.
Para Sachsida, “muito do que nós chamamos de discriminação contra a mulher é porque às vezes ela é obrigada a sair do mercado de trabalho para ter filhos”. O ministro prossegue: “Homem não fica grávido, mulher fica. Qual é a idade que mulher costuma ficar grávida? Entre 20 e 30 anos. O que acontece é o seguinte: se você pegar, vai ver que entre os 20 e os 40 anos de idade é que o seu salário dá grandes pulos. […] Só que essa faixa coincide também com a época em que a mulher sai do mercado porque teve filho. Então, parte da experiência que ela deveria acumular no período não acumula porque, basicamente, ela está cuidado do filho. Não estou dizendo que isso está errado, estou dizendo apenas como funciona”, diz Sachsida.
Na sequência, o novo ministro de Minas e Energia se diz contra licença maternidade de seis meses porque, para ele, a medida é um crime contra a própria mulher. “Isso, para mim, é criminoso contra a mulher. Você dá licença de seis meses para a mulher é mais ou menos como chegar ao empresário e falar: ‘Não promova a mulher porque, se ela engravidar, ela vai ficar fora seis meses da empresa’. Você consegue imaginar uma empresa ficar seis meses sem seu gerente? Não tem jeito”, completa.
O novo ministro ainda sugere a quem está assistindo à gravação propor aos amigos: “Quem entre vocês topa passar 15 anos trabalhando 12 horas por dia para daqui a 15 anos ser o chefão da empresa?”. O próprio Sachsida, então, responde à sua pergunta: “Uma magnitude expressiva de mulheres prefere uma jornada de trabalho menor porque precisa ficar com os filhos, porque pretende cuidar mais da família ou porque ela acha que a regra de sustentação é do homem. […] Eu não sei a explicação, sei o resultado. É que parte expressiva das mulheres prefere jornadas de trabalho mais curtas”.
Para o novo ministro, “se por dez anos você tem um homem que está topando jornada de trabalho longa e uma mulher querendo jornada de trabalho menor, é evidente que daqui a dez anos você vai promover o cara que se sacrificou mais pela empresa”. Sachida completa: “Não, isso não é discriminação. São questões de escolha de carreira. ‘Ah, Adolfo, eu não concordo com você’. Paciência. Isso não é opinião minha, são dados. Se você não acredita em mim, faça esse teste amanhã”, responde o próprio Sachsida.
Em outro trecho do vídeo, Sachsida se diz contrário a leis que proíbam a discriminação no pagamento de salários: “Quando você tem economias competitivas, eu acho que leis obrigando o empresário a pagar igual para homem e mulher, para branco e para negro, ou mesmo obrigando empresários a contratar alguma minoria, eu acho que são leis ineficientes. O próprio mercado resolve esse problema”.
Segundo ele, “o que acontece é que nós costumamos achar que as pessoas são igualmente eficientes. E muitas vezes não são. Então, aqui é importante entender o que é discriminação: é quando você tem duas pessoas com atributos iguaizinhos, mesma educação, mesma cultura, mesma vontade de trabalhar. Tudo o que interessa para a produtividade é igual. Contudo, existe um atributo que as diferencia, mas não altera a produtividade”, completa.
Em outro trecho, o novo ministro diz que “todos nós discriminamos. Discriminar é inerente ao ser humano. Discriminação é natural ao ser humano. Em vários atos, durante o dia, nós discriminamos”. Em sua opinião, a “pergunta relevante” a ser feita pela sociedade “não é se nós podemos ou não discriminar, a pergunta relevante é ‘quando o Estado deve intervir na discriminação?’”. Ao que ele mesmo responde: “Não se iludam: é errado proibir a discriminação”.
Fonte: Portal Vermelho, com informações do Folha.com e do G1